Blog do Oríosè

A História de Obí e Orogbo

Olá meus Irmãos! Bora pra mais um Papo de Terreiro? E o assunto agora é:

A História de Obí e Orogbo




Obí e Orogbo são duas amigas que vieram do interior para vencer em ilè Ifé, quando chegaram em Ilè ifé passaram muitas dificuldades, as duas procuram Orunmilá para uma consulta:

* Orunmilá jogou para Obí, e disse a ela para dar oferenda a Esú e depois ir para casa de Oxalá e cuidar de Oxalá.

- Obí fez tudo como Orunmilá falou.

* Orunmilá jogou para Orogbo e disse a ela para dar oferenda a Esú e depois ir para cuidar de Sangò.
- Orogbo não fez o que Orunmila disse, e foi para casa de Sangò para cuidar.

No passar dos anos obí ficou famosa porque deu oferenda e fez tudo como Orunmilá tinha dito a ela. Enquanto isso a mesma sorte não chegou a Orogbo que ficou com muita inveja, com o sucesso da amiga. Orogbo não resistiu a pressão e foi para outra cidade virar árvore.

Alguém avisou para Obí que Orogbo tinha virado árvore e Obí foi ao encontro de Orogbo e virou arvore também.

Oxalá foi ver as duas árvores e ordenou que todas as pessoas que for cultuar os Orisas são obrigados a usar a fruta da arvore de Obí para conversar com o Orisa e saber se foi aprovado ou não as oferendas.

Oxalá ordenou o uso da fruta de Orogbo para oferecer a Sangò.

Depois de alguns anos Orunmila ordenou quando for fazer casamento, batizado, ebó, cultuar orisa é obrigado usar Orogbo e Obí.

O Obí é usado para ter felicidade, cortar tragédia e infeliciade. O jogo de Obí é importante para pessoas que cultua Orísa. Todos os Sacerdotes devem saber jogar.

O Orogbo é usado para fazer pedido e ter vida longa.


Curtiram? deixem suas opiniões e Não esqueçam de curtir a nossa página -> Papo de Terreiro e mantenha-se atualizado sobre nosso conteúdo!

Ouça nossa Rádio--> www.papodeterreiro.tk , Lá você pode baixar o app para celular e acompanhar com tranquilidade nossa programação no seu celular. 

** Lembre-se, nosso conteúdo não é a verdade absoluta, é apenas uma fração dela. **

forte abraço!

Babalorixá Oríosè

Asé!

O SIMBOLISMO DAS CORES NO CANDOMBLÉ DE CONGO-ANGOLA


Olá meus Irmãos! Bora pra mais um Papo de Terreiro? E o assunto agora é:
O SIMBOLISMO DAS CORES NO CANDOMBLÉ DE CONGO-ANGOLA




As cores fazem parte das atividades humanas desde que o homem ganhou estatuto de humano. Mesmo para os povos menos desenvolvidos tecnologicamente as cores exercem um grande fascínio, haja vista que os homens da caverna já as utilizavam para suas pinturas rupestres. Na história da arte humana vemos que, adornos corporais, aparatos de guerra, instrumentos musicais, utensílios domésticos, seja qual fosse qual fosse à finalidade ou a forma do instrumento, o homem destacava e destaca essas formas com as cores mais variadas e luminosas, utilizando-se de materiais que tinha a mão, sejam folhas e troncos maceradas, barro de várias procedências, carvão de madeiras e outros matérias, na intenção de dar-lhes um colorido e uma expressividade maior.

O próprio corpo humano tem servido como território de pinturas e arabescos em busca do belo e também do terrível e do assustador. Para atividades da caça, da guerra, atividades religiosas e simbólicas, o homem se paramenta de cores, seja para assustar, agradar, ou apenas como prazer estético. As cores fazem parte do cotidiano dos homens desde priscas eras e mesmo entre os povos mais desenvolvidos tecnologicamente ela é elemento fundamental na sociedade, seja colorindo casas e habitações, ou tomando forma nos afrescos e pinturas em tela ou escultura em madeira e outros materiais. As cores estão presentes em todas as atividades humanas, que procura imitar a natureza que é sempre colorida, seja nos reinos animal, vegetal ou mineral. Tudo é cor, tudo são matizes, tudo vibra no contato com a luz, criando um mundo de formas e texturas que impressionam e comovem o olhar humano.

No candomblé de congo-angola, enquanto sociedade religiosa, as cores gozam de um estatuto especial, assim como nas demais religiões, seja através das comidas votivas, nos adornos da casa, ou nas pinturas rituais dos iniciados, enfim, tudo gira em torno das cores branco, vermelho e preto, que são carregadas de um simbolismo próprio. Outras cores também são utilizadas, mas não com a mesma freqüência e normalmente são cores derivadas das três principais que são o branco, o vermelho e o preto.

No Nzo Tumbensi de Itapecerica da Serra-Sp. fizemos um levantamento das principais cores nas cerimônias e chegamos à seguinte conclusão.

Entre as três cores utilizadas encontramos as seguintes percentagens assim distribuídas entre os vários momentos do culto.

47% dos elementos são de cor branca, 32% são de cor vermelha e 21% são de cor preta, o que dá uma idéia da preferência simbólica pela cor branca, seguida da vermelha e em último lugar da preta. Isso indica também que a cor branca e vermelha poderia ser vistas como cores positivas, enquanto a cor preta é considerada negativa, e, portanto, usada só em determinadas ocasiões.


COR BRANCA

Cor branca em roupas e paramentos
1) A roupa branca em uso no terreiro
2) Roupa branca da Muzenza (iniciado)
3) Colares brancos usados por todos os filhos de santo

B) A cor branca dos animais de oferenda
4) Galos e galinhas brancas
5) Cabritos e cabras
6) O sangue branco do caramujo

C) Comidas votivas brancas
7) Acaçá
8) canjica
9) farinha de mandioca
10) bolinhos de farinha
11) Água
12) Cachaça
13) Vinho branco
14) Pipoca
15) Sal
16) Feijão branco

D) edificações
17) A casa de kavungo é pintada de branco
18) A casa de Nvumbi (casa dos mortos) é branca
19) Barracão (salão de festas públicas) é pintado de branco
20) A pintura do quarto sagrado é branca (baquisse)
21) O nkissi Lemba é branco
22) Na primeira saída pública a Muzenza é pintada de branco

E) Outros materiais
23) Máscaras dos Bankissi
24)Pemba branca
25) Pano branco (morim) usado na kusaka
26) Bandeira do Tembu
27) Velas

COR VERMELHA

a) Roupas e paramentos
1) a roupa do Nkissi Matamba
2) contas vermelhas dos colares (Nzazi, Matamba, e outros)
3) máscaras dos bankissi
4) assentamento de Nzazi

b) Animais
1) frangos e caprinos vermelhos (ou marrons)

c) Comidas votivas
1) sangue dos animais
2) vinho tinto
3) azeite de dendê
4) mel
5) Makanza (acarajé)

d) outros materiais

1) Pano na sakulupemba
2) Velas para os catiços
3) Barro dos vasos, potes e quartinhas
4) Pintura no muzenza
5) Miçangas (Contas) vermelhas

e) edificações
1) casa do catiço

COR PRETA

a) roupas e paramentos
1) as roupas dos catiços
2) colares preto e vermelho e preto e amarelo
3) pintura azul no muzenza

b) animais
1) galos e cabritos pretos para os catiços[1]

c) alimentos

1) feijão preto
2) verduras


d) outros materiais
1) as estatuetas de Nzilla e Nkod
2) Pano na sakulupemba
3) carvão
4) pólvora

e) edificações
1) casa do catiço

Como se pode ver pelas descrições o uso maior se faz da cor branca e há uma razão para isso. Victor Turner (2005) ao analisar os Ndembu faz um estudo sobre o uso das cores entre eles e mostra a predominância da cor branca no cotidiano e nos rituais. Sabe-se e é de conhecimento corrente que o branco é a cor dos antepassados. Entre os bakongos quando alguém morre, faz uma passagem pelo grande mar e ao chegar à terra dos antepassados, o Mbanza Pemba, ele está branco translúcido pelo contato que teve com a grande água. 

Em compensação, os que não tiveram uma vida exemplar, não chegam à Mbanza Pemba e transformam-se em Tebo (pl. Matebo) e transformando-se na cor cinza com os cabelos vermelhos. São seres espirituais inferiores que passam o tempo rodeando as aldeias dos vivos, atormentando-os e roubando seus frutos e alimentos. Turner nos informa que tanto o branco quanto o vermelho em determinadas ocasiões pode representar tanto a masculinidade quanto a feminilidade. Na pintura de guerra dos homens o vermelho funciona como masculinidade, mas nos ritos reguladores das menstruações femininas o branco é que representa a masculinidade e o vermelho a feminilidade. Quanto ao negro representa a escuridão, o final das coisas, mas como tudo na cultura africana possui dois pólos, o negro pode também representar o recomeço, já que como representante da morte é também o recomeço das coisas. E a morte não é encarada como um fim em si como na cultura ocidental, mas como uma mudança de estatus perante a vida comunitária.

O branco é sempre entre os Ndembus uma cor positiva, enquanto o negro é negativa e o vermelho possui caráter ambivalente, pois pode ao mesmo tempo ser positivo e negativo, porque ao mesmo tempo em que representa a vida (sangue menstrual, das caçadas, que circula e dá vida aos seres) pode também simbolizar a morte. (o sacrifício ritual, a caçada, a mestruação etc.)

A primeira afirmação que podemos fazer é que o candomblé de congo-angola é herdeiro desse esquema de cores como já vimos em páginas precedentes. O uso intensivo dessas três cores vem demonstrar que herdamos dos africanos a utilização dessas cores com ligeiras adaptações, até na quantidade empregada do branco do vermelho e do negro. O negro como cor negativa está colocada em último lugar na escala cromática, enquanto o vermelho como cor ambivalente está em segundo lugar e o branco como cor positiva está colocada em primeiro plano. Todos os rituais existentes numa casa de candomblé congo-angola fazem uso das três cores, às vezes entremeados de outras cores, mas reconhecidas como oriundas dessas. Por exemplo, o azul e o verde são considerados negros, o laranja e o amarelo como vermelhos. Entre os Ndembu o sol e a lua são considerados brancos, dada a sua luminosidade, assim como entre outros povos bantu, e tal como no candomblé de congo-angola, o amarelo e o laranja são vermelhos e o azul e o verde são negros.

Percebemos que nos ritos de limpeza – sakulupemba[2] – as três cores são utilizadas numa ordem crescente, primeiro usa-se o preto, alimentos, folhas, grãos, depois se usa o vermelho e finalmente o branco, finalizando com a alva canjica de milho, como a fechar o ciclo cromático e finalmente passa-se um pano branco, em todo o corpo do consulente, finalizando o ritual. O uso do preto em primeiro lugar está claramente expresso na necessidade de expulsar as coisas negativas e maléficas que vem causando sofrimento ao paciente. Em seguida entra a cor ambivalente trazendo boas coisas, num período intermediário entre o ruim, o negativo e o bom. E finalmente o branco, como cor positiva, a preparar o paciente para um novo momento, livre dos males que o acometiam. O uso das três cores, que vai do negativo (negro), da escuridão, passando pelo vermelho, uma cor ambivalente, e chegando ao branco é um percurso de fruição espiritual e mística que consiste em libertar o sujeito de todas as mazelas a que foi submetido.

Quanto aos animais de sacrifício, apenas se sacrifica animais de cor preta para as entidades ligadas aos aspectos de segurança e proteção da casa, dos homens e de tudo que se dispõe no candomblé. Catiços (machos ou fêmeas) recebem em sacrifício animais de cor escura (preferencialmente pretos) ou Mpambu Nzilla em suas várias modalidades, pois são divindades encarregadas de levar o mal, acostumadas a lidar com as forças negativas e, portanto, necessitam do sangue de animais escuros para receberem a força (nguzo) necessária para desempenharem suas devidas funções. Os bankissi ligados a terra também recebem cores fortes (preto e branco, preto e vermelho, preto e amarelo), pois a terra (o Ntoto) é o grande mistério e de força incomensurável. Daí a presença do preto como força renovadora, princípio e fim de todas as coisas. Alguns bankissi recebem em sacrifício animais de cor vermelha (marrom) ou amarelo, que são considerados vermelhos. Seriam esses bankissi de natureza ambivalente, já que o vermelho é uma cor ambivalente? Pensamos, sobretudo que esses bankissi dado o seu caráter ambivalente (Nzazi, Matamba, Bamburecema, Kavungo) tanto podem ser benevolentes quanto se provocados fazer grandes estragos na natureza e nos homens. Por isso, suas cores estão ligados ao vermelho e seus derivados, assim como os ligados a terra e a força da natureza usam as cores preto e amarelo, preto e branco, ou branco e vermelho.

Os bankissi ligados a água, ou vestem-se de amarelo (considerado vermelho) ou vestem-se de azul ou verde e portam contas da mesma cor. O verde é considerado preto, dado o mistério das águas profundas, no caso das divindades do mar. Os de amarelo são as águas doces dos rios e lagoas, o que mostra o caráter ambivalente dessas águas, que são tão necessárias à sobrevivência humana, mas que também podem matar e destruir, com afogamentos, alagamentos e tantos outros perigos. Cada cor atribuída a um Nkissi seja através das contas rituais ou das roupas portadas por eles, quando manifestados, tem uma razão lógica, acompanhando o raciocínio e a tradição bakongo.

Há todo um esquema classificatório de cores evidenciando a natureza de cada divindade, herança naturalmente africana, vinda com os escravizados das terras bantu.

Quanto às cores da iniciação, durante todo o período de recolhimento a que é submetido o noviço, 21 dias em total recolhimento no bakissi, ele fica vestido o tempo todo de branco, evidenciando o rito de passagem da vida profana para a vida eclesial. O branco aí representa esse momento de transição, sendo a cor dos antepassados e da passagem da vida terrena para a vida na aldeia dos antepassados. O branco além de significar a pureza, ou seja, os momentos de purificação por que está passando o noviço, é também o símbolo da entrada numa nova vida, vida essa de caráter sacralizante. Sendo a cor da morte e da renovação tem o claro caráter de morte para a vida profana e o renascer na vida espiritual dentro da religião que ele abraçou.

Durante as saídas públicas que em algumas casas é em número de três e em algumas em número de quatro, o noviço vai envergar as três cores. Na primeira saída ele vem vestido de branco, com as pinturas rituais em branco, feitas de pemba[3] a cor branca por excelência. Traz o rosto e a cabeça assim como parte do corpo pintados de pemba, e vem vestido com uma roupa inteiramente branca. É o simbolismo de uma vida que esta nascendo para a comunidade por isso ele porta a cor positiva por excelência, numa clara alusão a morte do velho homem e o renascer do novo membro da confraria.

É alguém que está nascendo para o Nkissi, mas que ainda está em momento de passagem, como se este fosse o primeiro rito. Aliás, as saídas do Muzenza nada mais são que uma rememoração pública, aos olhos da comunidade, dos ritos pelos quais passou durante os dias de recolhimento.

Na segunda saída, o noviço vem de roupa colorida e tem o corpo pintado com as três cores (preto, vermelho, branco) ou de cores correspondentes a essas. Sendo a segunda saída um estágio intermediário, natural que as três cores apareçam, num momento de equivalência entre o ontem e o agora. Se na primeira saída ele demonstra que está entrando numa nova fase de vida, que vai pertencer à confraria, nessa segunda saída e o momento entre o querer pertencer e o pertencer. É nessa saída que o Nkissi vai se manifestar dando seu nome, o nome da divindade que rege o novo iniciado. Esse momento colorido (roupa e pinturas rituais) é o momento de afirmação total do novo fiel àquela confraria. O colorido feito em seu próprio corpo referenda esse momento de posse do Nkissi. A partir de agora, o neófito passa a ser “propriedade” daquele Nkissi e sua vida será regida pelos ditames da nova condição. As três cores são, pois a demonstração desse pertencimento a uma religião e a uma cultura.

Turner (2005) informa que nas grandes cerimônias entre os Ndembu, como o ritual de circuncisão, a partida para a guerra, ou os rituais de iniciação em geral, as três cores (o preto, o vermelho e o branco) estão presentes, nas máscaras, nos escudos, pintados nos participantes, ou como emblemas e estandartes. Talvez só nas grandes ocasiões as três cores apareçam combinadas entre os Ndembu, pois o mais comum e que seja usada aos pares, como o branco e preto ou branco e vermelho. Mas nas grandes ocasiões e comemorações elas são usadas juntas no sentido de completude, pois os Nedembu dizem que três rios têm origem em Nzambi Ampugo. Um rio de águas brancas, outro de águas vermelhas e ainda outro de águas pretas, numa clara alusão de que as três cores são originadas em Nzambi e partilham da realização e do equilíbrio do mundo. Toda a natureza é composta de três cores, desde as águas até os frutos das árvores, passando pelos animais e os homens. A vibração das três cores é que dá sentido e equilibra o mundo criado por Nzambi Ampungo, o incriado.

Na terceira saída, o noviço vem vestido com as cores do seu Nkissi protetor, que será de acordo com a natureza do mesmo. Se for um Nkissi ligado a terra, normalmente virá vestido de palha, ou de um tecido grosso e rústico, nas cores palha ou marrom. Se for ligado aos fenômenos da natureza, virá de roupas vermelhas ou vermelho e branco, assim como se for ligado às águas virá de amarelo ou azul ou verde. As cores aí obedecem a um determinado esquema, de acordo com a herança recebida dos africanos, sem fugir ao básico do preto, vermelho e branco, com suas derivações. É o momento culminante da festa, pois o Nkissi, ao dançar entre os humanos estará demonstrando sua alegria e sua posse naquela comunidade. Geralmente há a presença de uma ou duas cores, ou o preto e o vermelho ou o preto e branco, ou as cores consideradas como tal. Mesmo nas roupas estampadas procura-se juntar essas cores, ou evidenciar uma das cores mais características do nkissi em questão.

Quanto ao preto, não é uma cor totalmente negativa. Turner (2005) nos informa que o preto é também considerado a cor do amor verdadeiro, pois durante o ato nupcial é distribuída lama preta em todas as casas da aldeia, num claro partilha mento do amor do casal. Assim podemos ver que os Catiços, que são mais ligados às questões amorosas (como as pomba-giras) usam vermelho e preto, e os catiços machos usam preto. Além do mistério que o preto evoca e a ambigüidade do vermelho, são cores que remetem ao amor e a paixão carnal. Daí o uso dessas cores por esta qualidade de divindade. Algumas dessas entidades usam as três cores, mas o mais comum é que suas roupas sejam em preto, às vezes só vermelho, e às vezes vermelho e preto.

As três cores provêm de Nzambi Ampungo em forma de rios e colorem todos os elementos da natureza. Ao usá-las, o homem está entrando em sintonia com aquele que tudo criou, e deu aos homens elementos para que ele viva melhor. Tudo é colorido e tudo faz parte da criação de Nzambi. Citando textualmente Victor Tuner,

“As cores são concebidas como rios de poder, que tem sua nascente comum em Deus e permeiam todo o universo de fenômenos sensoriais com suas qualidades específicas. Mas, além disso, são consideradas também como tinturas da vida moral e social da humanidade...” (TURNER:2005 pg.106)

Concluindo, poderíamos dizer que as cores no candomblé de congo-angola obedecem a um rígido esquema de composição e uso. Que como as demais manifestações do candomblé nada é aleatório, mas tudo e todos ocupam lugares bem determinados nos rituais e na hierarquia do culto. Que as três cores utilizadas são provenientes da África bantu e que apesar das influências e adaptações necessárias no novo mundo, muito do que de lá veio permanece quase inalterado. Que se parte do conhecimento perdeu-se durante os horrores do tráfico, parte dele permanece na memória oculta de homens e mulheres passados de geração em geração e perpetuados por eles através da oralidade.

Que as três cores o branco, o vermelho e o negro, que são os três rios que fluem de Nzambi Ampungo, são os elementos que estruturam e dão sentido às praticas religiosas e dão unidade a liturgia do candomblé. As águas coloridas dos rios que fluem de NZambi Ampungo é que fertilizam a terra e todos os seus frutos, assim como dá vida aos seres e aos homens. Sem essas águas coloridas o mundo e todos os seres viriam a fenecer. Portanto, não utilizá-las é negar a existência de Nzambi Ampungo, é negar a existência da natureza exuberante, é em suma, negar a própria existência do homem na terra.


Curtiram? deixem suas opiniões e Não esqueçam de curtir a nossa página -> Papo de Terreiro e mantenha-se atualizado sobre nosso conteúdo!

** Lembre-se, nosso conteúdo não é a verdade absoluta, é apenas uma fração dela. **
forte abraço!
Asé!



REFERÊNCIAS
TURNER, Victor. Floresta de Símbolos – aspectos do ritual Ndembu.Tradução de Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Editora da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
[1] Catiço é nome que se dá aos espíritos conhecidos como Exu e Pomba-Gira, ou aos boiadeiros, marinheiros e índios.
[2] Sakulupemba também chamado de sacudimento ou por influência da milonga de ebó
[3] Giz branco usado no lugar da argila branca, essa sim usual em África.

Akasá - A comida de todos os Orixás

Olá meus Irmãos! Bora pra mais um Papo de Terreiro? o assunto agora é:



As definições mais elementares do acaçá dizem que se trata de uma pasta de milho branco ralado ou mopido, envolvida, ainda quente, em folhas de bananeira. A definição correta, mas extremamente superficial, pois o acaçá é de longe a comida mais importante do candomblé. seu preparo é forma deutilização nos rituais de oferenda. Envolvem preceitos e regulamentos bem rígidos, que nunca podem deixar de ser observados.

Todos os orixás, de Exú a Oxalá, recebem o acaçá. Todas as cerimônias, do ebó mais simples aos sacrifícios de animais, levam acaçá. em rituais de iniciação, de passagens fúnebres e tudo o mais que ocorra em uma casa de candomblé só acontece com a presença de acaçá. a vida e a morte no candomblé se processam à partir desta oferenda fundamental, sem a qual nenhum homem seria poupado dos dissabores e percalços do destino. Quando recorremos à história dos orixás, percebemos o grande mal que a humanidade se submete todas as vezes em que se afasta do poder divino, representado, nesse caso, pelo poderoso Orun, a morada de todas as divindades, e pelo deus supremo, senhor do destino dos homens, OLODUMARÉ, também conhecido como Olorun.

Certa vez, a terra foi acometida por uma terrível seca. Havia anos que não chovia, as mulheres estavam estéreis, o solo infértil, a fome, a doença, a morte assolavam a população. a iminência da destruição lecou os orixás a consultar Ifá, o deus de todos os otráculos, que revelou a necessidade de se fazer uma grande oferenda ao próprio Olodumaré, que há muito já não se ocupava dos problemas da terra nem dos homens. Conforme Transcrição do texto sagrado. Ifá disse aos orixás que:

" Somente se pudessem fazer oferenda, olodumaré teria sempre misericórdia deles. Ele se lembraria deles e zelaria pelo mundo. Foi assim que prepararam a oferenda. Foi assim que prepararam a oferenda. Eles colocaram: uma cabra, uma ovelha, um cachorro, uma galinha, um pombo, um preá, um peixe, um ser humano e um touro selvagem, um pássaro da floresta, um pássaro da savana, um animal doméstico..."

A lista de oferendas segue e noz faz supor que está indicando uma grandeza e não um conjunto de oferendas propriamente dito. em outros termos, era preciso ofertar algo a Olodumaré que pudesse representar todos os seres vivos da Terra, e nesse contexto insere-se o valor do simbólico. Os significados profundos de alguma coisa acabam evocando aquilo que por força das circunstâncias, ou mesmo por impossibilidadaes reais, é, abstraído. todavia, que a oferenda poderia substituir um sacrifício desta proporção, contendo, inclusive, um ser humano?
Só existe uma oferenda capaz de restituir o axé e devolver a paz e a prosperidade na Terra, e lea é justamente o acaçá. Mas o que faz de uma comida aparentemente tão simples a maior das oferendas aos orixás?

será que todos sabem o que realmente é um acaçá?

façamos então uma classificação dos elementos que compõem o acaçá para chegarmos á derradeira conclusão. Primeiramente, é preciso esclarecer que a pasta branca á base de farinha de milho( que fica alguns dias de molho e depois passada pelo pilão ou moinho) chama-se na verdade èkó. Depois de coxear, uma porção da pasta, ainda quente, é envolvida em um pedaço de folha de bananeira (ewé - èkó) para enrijecer (na África é usada outra folha, chamada èpàpo), tornando-se, agora sim, um acaçá.

Percebe-se a fundamental importância da folha de bananeira, uma vez que o èkó só passa a ser acaçá quando envolvido em uma folha verde que lhe atribui uma existência individualizada, pois passa a ser uma porção desprendida de massa, assim como o emi, que dá vida aos seres, é, na verdade, uma parte da atmosfera, ou do próprio Olorun, que todo ser leva para dentro de si, o sopro da vida, o ar que respiramos.

Portanto, o acaçá é um corpo, o simbolo de um ser. A única oferenda que restitui e redistribui o axé.

É importante insistir que o que faz do acaçá um corpo único, eminente representação de um ser, é a folha, seu poderoso invólucro verde, que lhe confere individualidade e força vital diante do poderoso Orun, dos orixás e do grande deus Olodumaré.

Somente a água é tão importante quanto o acaçá, pois não existem substitutos para nenhum dos dois, que são, a exemplo do obi, elementos indispensáveis em qualquer ritual. Ambos configura-se como símbolos da vida, e é justamente para afastar a morte do caminho das pessoas, para que o sacrifício não seja o homem, que são oferecidos.

O acaçá remete ao maior significado que a vida pode ter: a própria vida. E por ser o grande elemento apaziguador, que arranca a morte, a doença, a pobreza e outras mazelas do seio da vida, tornou-se a comida e predilação de todos os orixás.

O grande fundamento

Nem todas as palavras do mundo são sufucuentes para decifrar o valor de um acaçá. Basta admitir que os segredos estão nas coisas mais simples para ver que muitos julgaram insignificantes, a comida mais importante do candomblé, banalizando o sagrado e privilegiando a intuição em detrimento do fundamento.

fato é que quem não faz um bom acaçá não é um bom conhecedor do candomblé, pois as regras e diretrizes da religião dos orixás nunca foram ditadas pela intuição. constituem grandes fundamentos 'cristalizados' ao longo dos anos e anos de tradição. Aos incautos vale afirmar que candomblé não é intuição, mas fundamento sim, e fundamento se aprende.

Fundamento é o segredo compartilhado, o mistério sagrado, o detalhe que faz a diferença e a prova de que ninguém pode enganar o orixá. Aqui, o grande fundamento é que o sangue dos animais sacrificados já mais pode jorrar sobre os igbás sem a presença do elemento pacificador, pois o acaçá simboliza a paz. Quando ofertado e retirado do seu invólucro verde, tornardo-se a comida que agrada todos os orixás, a primeira oferenda que deve ser colocada diretamente no assentamento, juntamente com o obi e a água, antes de qualquer sacrifício.

Muitas vezes o sangue do animal não é colocada diretamente no igbá, a panela onde se faz o assentamento para o orixá. Primeiramente, no candomblé,o ejé(sangue) é batido, porque a 'quentura' do sangue, seu vermelho intenso, agride ou se choca a energia de orixás como Oxalá, por exemplo.

O acaçá deve permanecer fechado, imaculado até o momento de ser entregue ao orixá. Só então é retirado da folha. É como se osagrado tivesse de ficar oculto até a hora da oferenda, prova de que o segredo é quase sempre um elemento consagrado. E o segredo do acaçá é enrolar o èkó na folha da bananeira, é o que mantém um terreiro de candomblé de pé. não existe acaçá que não seja enrolado na folha de bananeira.

Entretanto, a imprudência vigora em muitos terreiros e não raras vezes se ouve falar de 'novas iguarias' apresentadas como acaçá. Os mais comuns são os 'acaçás de pia' e 'de forma'. No primeiro caso, a massa de Èkó, mais grossa, é colocada ás colheradas sobre os mármores das pias, onde os bolinhos esfriam antes de serem utilizados nos ritos. na segunda 'receita', a massa é espalhada em uma forma e posteriormente cortada em quadradinhos. Este é um procedimento incorreto e condenável, e as pessoas que agem assim estão fadadas ao insucesso e não podem ser consideradas pessoas de Axé.

Não há candomblé sem acaçá, nem acaçá sem folha. a religião dos orixás não admite modificações na sua essência, e esta comida é essencial, portanto, inviolável. Há sacerdotes que oferecem até bois em sacrifício a seus orixás e acabam se esuqcendo de que o acaçá traduz o saber, e de nada adianta o boi sem acaçá.

Primeiro vem o acaçá, antes dele só a vida. Logo, a folha de bananeira guarda uma vida. Deixar o èkó exposto é o mesmo que deixar a vida vulnerável. Eis o grande fundamento.]Que se arrependam, pois, os que menosprezaram o maior entre todos os fundamentos do candomblé, lastimem para sempre esta imprudência e reconheçam que seu insucesso é decorrência de sua ignorância. Saibam agora que nos lugares mais óbvios se escondem os maiores segredos. Jamais banalizem o sagrado, porque o ritual admite alterações na forma, mas nunca na essência. No mundo de hoje não há lugar para o despreparo, portanto, quem não souber fazer um acaçá que saia do candomblé.

Na Bahia não há quem não conheça, imprescindível nos rituais de candomblé, mas também muito apreciado como acompanhamento de comidas de azeite. prato predileto de Oxalá e de todos os orixás é também o mais poderoso ebó, único que arranca a morte do seio da vida.

manter-se imaculado até o momento da oferenda é o que garante a eficácia do acaçá, portanto a folha de bananeira (e no Brasil nenhuma outra pode substituí-la) é fundamental e prova, acima de tudo, o quanto um Babalorixá ou Iyalorixá são conhecedores da religião que professam. os grandes sacerdotes de candomblé, conhecidos por sua seriedade, saber e sucesso, enrolam o Èkó na folha, sabem fazer acaçá.

Este é o segredo!

Curtiram? deixem suas opiniões e Não esqueçam de curtir a nossa página Papo de Terreiro no facebook e mantenha-se atualizado sobre nosso conteúdo!

** Lembre-se, nosso conteúdo não é a verdade absoluta, é apenas uma fração dela. **

Rádio Papo de Terreiro: www.papodeterreiro.tk

forte abraço!
Asé!

Programa Espelho: Lázaro Ramos entrevista Mãe Beata de Iemanjá

        Mãe Beata explica como o Candomblé mudou sua vida


Num cenário espirituoso e irreverente, Lázaro entrevista Mãe beata. Na conversa descontraída, a religiosa fala sobre a luta das religiões de matriz africana e dos direitos da mulher no Brasil.

Assista:








A Origem da Palavra ÌYÀWÓ

A Origem da Palavra ÌYÀWÓ

A palavra ìyàwó possui sua origem numa história conectada com Òrúnmìlà e sua viagem a cidade de Ìwó, e que ora relatamos:" Um certo dia, Òrúnmìlà desejou se personificar em um ser humano. 

Vestiu-se com folhas de bananeira como se fosse um maltrapilho e se dirigiu à cidade de Ìwó. Ali viu Oba em toda sua imponência, com seus assistentes e chefes, pois era época de festa anual. Sentou-se em frente a casa do Oba e se serviu das sobras de comida que jogavam fora. Ao ver isso, o Oba o entendeu como um estranho e ordenou que servissem um prato de comida para ele. Mais tarde, Òrúnmìlà disse ao Oba que queria dormir um pouco. 

A fim de se livrar do estranho maltrapilho, o Oba ordenou a seus servidores que preparassem um lugar para ele, com toda a roupa de cama salpicada com fiapos e sementes de uma certa planta que provocava comichão. Òrúnmìlà dormiu sobre isto e, quando acordou sentiu uma coceira pelo corpo, correu para o rio para se banhar. 

De manhã cedo, foi até Oba e disse a ele que tinha tido um bom sono. Em seguida, jogou Òpèlè, o rosário divinatório para Oba, e fez previsão para ele, dizendo que teria um reinado longo e próspero. Novamente, Òrúnmìlà continuou com seu comportamento estranho, comendo sobras de comida, mas predizendo para as pessoas. 

No seu terceiro dia em Ìwó, a filha do Oba começou a gostar de Òrúnmìlà, e decidiu se casar com ele. Todos ficaram horrorizados, uma princesa se casar com o estranho maltrapilho. Mas ela insistiu e o Oba teve de concordar, dividindo seus bens com Òrúnmìlà, em forma de dote. Òrúnmìlà, então, foi viver fora da cidade com a princesa. Ficou dono de muitos bens, passou a ter assistentes e muitos cavalos, devido aos presentes que recebeu de Oba.

Assim, quando as pessoas perguntavam quem era sua esposa, Òrúnmìlà respondia que era uma humilhação que sofreu em Ìwó. Ìyà significa humilhação, e Ìwó, o nome da cidade onde sofreu humilhação. As duas palavras formam Ìya Ìwó, e que veio a se tornar Ìyàwó. Desse momento em diante, os yorubá se referiam a noiva de Òrúnmìlà como Ìyàwó, que , assim passou a ser a palavra que define uma esposa."